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Locomotiva 207

Fabricante: Sächsische Maschinenfabrik vormals Richard Hartmann 
Ano de fabricação: 1925
Placa: 4638
Tipo: Pacific (4-6-2)
Bitola: 1,00m (3′ 3 3/8″)
Expansão do vapor: Simples
Produção de vapor: Superaquecido
Combustível: lenha (madeira) ou carvão.
Procedência: EF São Paulo – Minas Gerais.

A locomotiva 207 é uma Pacific (rodagem 4-6-2) fabricada em 1925 pela Sächsische Maschinenfabrik vormals Richard Hartmann com número de série 4638 para a EFS (Estrada de Ferro Sorocabana). Mais tarde foi transferida para a EFA (Estrada de Ferro Araquara) e por fim para a SPM (São Paulo Minas).

Para simplificar, elas geralmente são chamadas apenas de locomotivas Hartmann.

Estrada de Ferro Sorocabana

A Companhia Estrada de Ferro Sorocabana foi criada em 2 de fevereiro de 1870 e teve seu primeiro trecho inaugurado em 1875, formado uma única linha, em bitola métrica, entre São Paulo e a fábrica de ferro de Ipanema, passando por Sorocaba.

Devido a dificuldades financeiras com as cargas sendo transportadas, a ferrovia decide então expandir seus trilhos até Botucatu, para assim atingir as regiões cafeeiras indo até Assis. A ferrovia continuo com diversas expansões, chegando a servir diversas cidades paulistas.

Em 1904 a ferrovia foi leiloada e arrematada pelo governo federal e logo em seguida, em 1905 foi vendida ao governo do estado de São Paulo.

De 1907 a 1919 a ferrovia foi arrendada para o capitalista norte-americano Percival Farquhar, passando então a operar sob o nome “The Sorocabana Railway Co.” tendo se tornado lucrativa até 1912. Nesse ano o sindicato Farquhar começa a entrar em sérias dificuldades financeiras e praticamente abandonou a administração da ferrovia. A situação chegou a tal ponto que a ferrovia teve que ser encampada pelo estado de São Paulo em 1919.

Mapa Sorocabana (verde e roxo), autor Raphael Lorenzeto de Abreu

A locomotiva 207 foi adquirida pela EFS em 1925, tendo recebido o número 399. Em 1939 foi transferida para a EFA. Não se sabe ao certo qual foi o uso da locomotiva na EFS e nem o porque da sua transferência.

Estrada de Ferro Araquara

Esta ferrovia foi inaugurada em 1895 e seu ponto inicial foi a cidade de Araraquara (onde fazia ligação com a Companhia Paulista). Devido a má administração e eventual  falência da ferrovia, esta foi  encampada pelo governo do Estado de São Paulo, que assumiu a administração da mesma em 15 de Outubro de 1919.

A locomotiva 207 foi transferida para a EFA por volta de 1939 para ajudar a compor o quadro de tração da ferrovia que sofria uma grande demanda para escoar toda a produção agricola de SP até Araraquara. Na transferência ela foi renumerada de 399 para 207, número que mantém até os dias de hoje.

Por causa das diferenças de bitola, sendo a EFA  de bitola métrica e a CP (Companhia Paulista) bitola larga de 1,60m, decidiu-se pelo alargamento da bitola da EFA para bitola larga, eliminando-se assim as custosas baldeações que ocorriam na cidade de Araraquara para transferência de carga e passageiros entre as ferrovias. A re-bitolagem também foi motivada pelo fato da EFA não possuir conexão com qualquer outra ferrovia em bitola estreita, apenas com a CP.

Mapa E.F.ARARAQUARA Brasil: Ministério dos Transportes: Contadoria Geral dos Transportes”
Coleção de Fábio Lenta

Os trabalhos de alargamento foram iniciados no ano de 1954 e em 1955 a ferrovia já havia adquirido diversas locomotivas a vapor de bitola larga usadas de outras ferrovias (Central do Brasil e Estrada de Ferro Santos a Jundiaí) e feitas as adaptações necessárias para que fossem utilizadas nas linhas já re-bitoladas.

Em Setembro de 1955, com diversos veículos de bitola larga já adaptados e prontos para uso, a ferrovia com os dormentes já trocados entre Taquaritinga e São José do Rio Preto procedeu com a re-bitolagem dos 100km que separavam as duas cidades. O trabalho todo foi executado em 4 dias, usando-se turmas de via da EFA e da CP.

Com estes trabalhos, o material de bitola métrica ainda existente foi transferido para além de São José do Rio Preto, os trabalhos continuariam até 1956, quando a ferrovia foi totalmente alargada.

O material de bitola estreita foi transferido para outras ferrovias, sendo a 207 enviada para a EFSPM (Estrada de Ferro São Paulo Minas).

Estrada de Ferro São Paulo Minas

A 207 foi transferida em 1968 para a São Paulo Minas, onde manteve o número 207. Não se sabe ao certo até quando a 207 trabalhou na ferrovia, mas esta foi a ultima ferrovia do qual ela fez parte.

Após os serviços na EFSPM a 207 acabou indo para um depósito em Rio Claro, onde ficou abandonada até ser resgatada pela ABPF por volta de 2006 e veio para o pátio de Cruzeiro e hoje encontra-se nas Oficinas de Cruzeiro aguardando restauração.

Comprador da Locomotiva

Existe uma controvérsia grande se a locomotiva 207 foi ou não uma locomotiva da EFS. Alguns pesquisadores dizem que ela fora da EFS, mas não existem grandes detalhes sobre o tempo dela na EFS.

Outros pesquisados já afirmam que a 207 (e algumas outras locomotivas) teriam sido compradas pela EFS devido a falta de crédito da EFA na época, assim estas locomotivas nunca teriam passado pela EFS e isso explicaria o porque delas aparecem como EFS em algumas publicações.

Inclusive existe o Relatório- Características das Locomotivas Existentes de 1946, que foi obtido no Museu da Fepasa em Jundiaí, que indica entre outras coisas o fabricante, peso, datas de fabricação e de entrada em serviço das locomotivas da EFA, para as locomotivas Hartmann os dados são:

  • 205- Hartmann- Fab. 1925- Ent em Serviço 14/08/1926
  • 206-Hartmann- Fab 1925- Ent. Em Serviço 19/08/1926
  • 207-Hartmann- Fab.1925- Ent em Serviço 26/08/1926
  • 306- Hartmann- Fab 1925- Ent em Serviço 06/02/1926
  • 307- Hartmann- Fab 1925- Ent em Serviço 10/02/1926
  • 308-Hartmann- Fab 1925- Ent. Em Serviço 13/02/1926
  • 309- Hartmann- Fab 1925-Ent. Em Serviço 22/02/1926
  • 310- Hartmann- Fab 1925- Ent em Serviço 04/03/1926
  • 311- Hartmann- Fab 1925- Ent em Serviço 14/003/1926
  • 312- Hartmann- Fab 1925- Ent em Serviço 17/03/1926

Existem informações mais concretas sobre a compra em 1948/1949 pelo Governo de São Paulo de 06 locomotivas a vapor 4-8-2 em nome da EFS, não se sabe porque razões, mas destinadas a EFA (provavelmente por garantia de empréstimos), compra esta feita da Montreal Locomotive Works do Canadá. Estas locomotivas acabaram sendo fabricadas não pela MLW, mas pela Canadian Locomotive Works, concorrente da MLW, que conforme o livro desta empresa já havia desativado sua caldeiraria e estava só fabricando locomotivas Diesel. O numero original destas locomotivas era para ser de 351 a 356, numeração indicada pela EFA, aqui é importante observar que a EFS tinha já 20 locomotivas de rodagem 4-8-2, numeradas de 801 a 820, Baldwin e Alco, assim não teria razão em criar esta numeração a partir de 350, sendo que a serie 300 era numeração das Pacific na EFS. A EFA não tinha nenhuma 4-8-2 e seria razoável esta numeração, situada entre suas 2-8-2 ( numeradas de 301 a 314), e suas 4-10-2, numeradas de 401 a 403.

Realmente a EFA  recebeu, em 1948, duas locomotivas ex- Sorocabana, as de números 901( Schwartzkopf)  e 902 ( Henschel), duas 2-10-2 de três cilindros compradas pela EFS em 1929, as únicas desta rodagem que existiram tanto na EFS como na EFA. A Sorocabana as comprou em 1929 como teste, mas acabou posteriormente comprando 22 locomotivas de rodagem 4-10-2 da Alco e da Henschel (números 1001 a 1022 na EFS), todas também de 3 cilindros.

Todos esses fatos juntos mostram que pode ter havido uma grande confusão em se separar locomotivas que foram da EFS e adquiridas desta pela EFA em relação a locomotivas compradas pela EFS para a EFA.

Resgate

Eventualmente a 207 acabou abandonada nas oficinas de Rio Claro – SP, onde em 2005 foi resgatada pela regional Sul de Minas e levada para Cruzeiro, onde hoje aguarda restauração.

Coloboraram

  • Bruno Crivelari Sanches
  • Paulo Mondé
  • Beny

Fontes

 

6 Respostas para “Locomotiva 207

  1. Thales

    28 de fevereiro de 2012 at 20:32

    Lembrando que até 2005 ela ficou abandonada nas Oficinas de Rio Claro, após o fechamento da SPM, junto com outra locomotiva, a 202, que agora está com a ABPF – Rio Claro.

     
    • bcsanches

      26 de março de 2012 at 16:47

      Thales, sabe de alguma data ou informação dela na SPM? Só consegui levantar que ela foi transferida para lá em 1968.

      Obrigado!

       
      • Paulo A.P.Modé

        20 de fevereiro de 2013 at 11:39

        Caro Sanches,

        As locomotivas 207 e 202 pertenciam a Estrada de Ferro Araraquara, e foram transferidas para a EF São Paulo Minas em 1968 quando a EFA
        alargou sua bitola de 1,00 para 1,60m. Há fotos das locomotivas EFA no site http://www.historiadaefa.net, mantido pelo Paulo S. Calvo, e lá existem fotos destas locos e de suas irmãs ( 201, 203 e 204, identicas á 202, e da propria 207 ainda na EFA.

        uM ABRAÇO,

        Paulo Modé

         
      • bcsanches

        20 de fevereiro de 2013 at 11:48

        Olá Paulo,

        obrigado pelo comentário. Existe uma controvérsia grande quanto ao rumo da 207. Eu tenho levantamentos aqui que indicam que ela passou para a EFS e depois São Paulo Minas. Alguns inclusive duvidam se ela foi comprada pela EFA ou EFS.

         
  2. Paulo A.P.Modé

    15 de outubro de 2013 at 8:13

    Caro Bruno,
    Belíssimo trabalho de recuperação da ‘carrasca” 522. Estou torcendo para ve-la de volta funcionando. Quanto á 207, que está na fila, tenho um presente a voces. Tenho comigo o apito da loco 504 ( 4-8-2- Montreal/Canadian), da EFA, praticamente perfeito; falta só o pino de articulação da alavanca de acionamento.
    Quando começarem a reforma desta 207, vou levá-lo a Cruzeiro, para o caso de vcs quiserem montá-lo nesta loco.Sei que a 207 está sem seu apito original, mas os sons eram bastante parecidos.

    Abraço,

    Paulo Modé

     
    • bcsanches

      15 de outubro de 2013 at 17:43

      Obrigado Paulo e que ótima notícia essa!

      Paulo, apitos são sempre muito bem vindos e quanto mais próximo do original melhor ainda. Pode deixar que que vai ser noticiado quando começarmos a trabalhar nela.

       

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