
Chegou hoje nas oficinas de Cruzeiro a locomotiva nº10, ex SPR, fabricada na Inglaterra pela Sharp, Stewart & Co. em 1867. Essa é hoje a terceira locomotiva mais antiga existente no país, ficando atrás apenas da Baroneza (1852) e da nº15, ex SPR (1862) e, após todo o processo de reforma, será a mais antiga em funcionamento no Brasil.
Essa é de fato a primeira locomotiva da ABPF, doada a associação em fins dos anos 70 pelo seu proprietário anterior, o Frigorífico Bordon, que por sua vez a adquiriu anos antes da então EFSJ para uso nas manobras dentro de seu pátio.
Foi levada para Jaguariúna, sede da ABPF na época onde permaneceu por algum tempo, aguardando a oportunidade de ser recuperada. O fato de ser uma locomotiva de bitola larga era um grande limitador para o uso da mesma, uma vez que na época a ABPF só possuía o trecho em bitola métrica de Campinas a Jaguariúna mas, o mais importante havia sido conquistado: a preservação da mesma.
A possibilidade de se realmente a utilizar só veio na década de 1990, quando a ABPF conseguiu a cessão do antigo desvio da Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo capital. Esse desvio, de cerca de 1km em bitola larga abriu a possibilidade para a ABPF de resgatar e utilizar o material de bitola larga.
Em 2001 foi concluída a restauração, com apoio da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e do Engenheiro Lincoln Palaia, passando a locomotiva então a trabalhar junto com a nº5, ex. EFCB no “Trem dos Imigrantes”.
Posteriormente, com o projeto do “Trem dos Ingleses”, foi levada para Paranapiacaba para tracionar o trem turístico no pátio do museu.
Lá funcionou por alguns anos, até que a sua fornalha, feita de cobre assim como em todas as locomotivas a vapor fabricadas até a década de 1870 e, em alguns casos até depois dessa década, sofreu com a fadiga do material, apresentando diversas trincas, um problema crônico de todas as locomotivas a vapor que possuem fornalhas feitas com esse material (por isso a adoção do aço a partir da década de 1870).
A solução para este problema é a substituição completa da fornalha por uma nova, feita de aço, algo que é impossível de ser feito no local onde ela estava, uma vez que depende de muitos recursos (uma oficina completa, com grandes equipamentos), além de estrutura para realizar a desmontagem completa da locomotiva e a remoção da caldeira do chassi; por isso foi trazida para Cruzeiro, onde todo esse trabalho será realizado e, aproveitando-se a desmontagem completa, toda a mecânica será refeita.
Transporte para Cruzeiro
Toda a operação para transporte da locomotiva levou meses; foi necessário muito planejamento e preparação da locomotiva para poder ser rebocada. A MRS Logística foi uma parceira primordial para essa realização, uma vez que é impossível acessar o pátio de Paranapiacaba com carretas e guindastes para uma operação como essa. Desde o início, a MRS nos recebeu e começou a trabalhar em conjunto conosco para que a operação pudesse ser feita da melhor maneira possível, com plena segurança para todos e para a locomotiva.
No dia 26/05 a locomotiva nº10 manualmente (puxada e empurrada com cabos de aço e alavancas) foi levada até uma das linhas da MRS no pátio de Paranapiacaba onde uma locomotiva diesel-elétrica daquela concessionária finalmente pode rebocá-la. Nos metros finais foi puxada por uma escavadeira da MRS, gentilmente cedida pela equipe de via que estava no local.


A locomotiva nº10 foi mais uma vez revistada e lubrificada e então seguiu rebocada para o pátio de Campo Grande, onde permaneceu aguardando até ontem, dia 27/05 para ser carregada na carreta para seguir viagem.




Esta operação foi extremamente complexa, devido a delicadeza da locomotiva nº10 em relação as grandes locomotivas hoje usadas pela MRS, mas foi tudo planejado de forma cuidadosa pela empresa de forma a evitar “stress” desnecessário a locomotiva nº10.






Nossos agradecimentos a MRS Logística S/A por todo o apoio e empenho para essa grande realização; sem essa parceria não teria sido possível realizar essa remoção, que é o primeiro passo para a recuperação plena da 3ª locomotiva mais antiga e que será em breve a mais antiga em funcionamento do país.