
A Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – ABPF acaba de concluir a restauração de mais uma locomotiva histórica em suas oficinas localizadas em Cruzeiro/SP. Trata-se da 3507, uma locomotiva diesel-elétrica de origem norte-americana com 66 anos de idade.
Breve histórico
Trata-se de uma locomotiva diesel-elétrica modelo RSD-8 construída pela American Locomotive Company nos Estados Unidos em 1958 a pedido da então Cia. Paulista de Estradas de Ferro para utilização em suas linhas de bitola métrica. Após anos de serviço, foram vendidas para a então Cia. Mogiana de Estradas de Ferro a qual foi incorporada em 1971 a Ferrovia Paulista S.A. – FEPASA.
A partir de 1978, passou a trabalhar na Baixada Santista juntamente com as demais locomotivas de mesmo modelo. No início da década de 1990 a 3507 foi uma das locomotivas que passou a trabalhar no TIM – Trem Intrametropolitano entre as estações Ana Costa (em Santos) e Samaritá (em São Vicente).
Com o fim do TIM em 1999, a 3507 foi retirada de circulação e iria ser sucateada como foram as demais. Felizmente ela foi adquirida por uma empresa privada para ser utilizada em manobras de vagões no seu terminal no Porto de Santos. A locomotiva foi então reformada e recolocada em funcionamento.
Após anos trabalhando nas manobras com os vagões que entravam e saíam do terminal, a locomotiva foi retirada de serviço visto sua ineficiência (baixa potência) diante do grande aumento do volume de vagões a serem manobrados, o que motivou a sua colocação à venda. A ABPF passou então a negociar com o proprietário da 3507 e após alguns meses de conversas e acertos burocráticos foi feita a aquisição da mesma e, em dezembro de 2017 ela foi transportada de Santos para Cruzeiro.


Restauração
Em 2018 foram iniciados os trabalhos de restauração da locomotiva 3507, com limpeza geral, desmontagem de componentes para verificação, remoção da pintura para verificação do real estado da locomotiva (onde se constatou a necessidade da realização de um grande trabalho de calderaria, com substituição de diversas partes da chaparia que estavam comprometidas devido à corrosão causada principalmente pela maresia, já que ela trabalhou por muitos anos no litoral e dentro do porto de Santos) dentre outros procedimentos.









Conforme avançavam os trabalhos de calderaria e revisão de componentes, uma série de grandes desafios foram surgindo, sobretudo na parte mecânica. O sexagenário motor diesel passou a apresentar problemas, sendo o principal deles a corrosão de parte do bloco, o que permitiu que o líquido de arrefecimento se misturasse com o óleo lubrificante, algo que não pode acontecer em nenhum tipo de motor de combustão interna com refrigeração líquida pois, se não corrigido, pode causar grave avaria e a condenação do mesmo.


Com muita dedicação, empenho e habilidade o problema foi resolvido e o motor diesel recolocado em funcionamento. Uma série de ajustes ainda foi necessária para deixa-lo em perfeitas condições, tendo alguns outros componentes sido substituídos. Resolvida essa questão, foi a vez do compressor que gera o ar comprimido para o sistema de freios apresentar avaria, sendo então necessário substituí-lo por outro. Em seguida o gerador auxiliar também apresentou avaria e foi necessário desmontá-lo e recuperá-lo inteiramente.



Finalmente a locomotiva estava mais uma vez em plenas condições operacionais e, foi iniciada a fase final da restauração: pintura e acabamentos. Para a pintura, foi escolhido um dos padrões que ela teve ao longo de sua longa vida de trabalho: o padrão fase II da FEPASA, o qual ela utilizou nas décadas de 1980 e início da de 1990.

Visando a maior fidelidade possível ao padrão de pintura, foram utilizados documentos de época da própria FEPASA com as especificações para reprodução das faixas, logotipos e inscrições. Para além, houve muito trabalho de pesquisa para se determinar o tom das cores o mais correto possível.








Foram cerca de seis anos de muito trabalho e dedicação para se recuperar plenamente essa sexagenária locomotiva, onde grandes desafios tiveram que ser vencidos, algo rotineiro quando se lida com equipamentos tão antigos. A 3507 está de volta a vida com todo o esplendor e será uma das locomotivas que serão utilizadas no futuro “Expresso Mantiqueira”, que percorrerá o trecho de ferrovia que já está sendo recuperado pela ABPF entre Cruzeiro/SP e Passa Quatro/MG.
