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Transporte das Locomotivas Sentinels

28 ago

Após nove meses de negociação a ABPF e a Maxion Componentes Estruturais chegaram em um acordo quanto as Locomotivas Sentinels.

Em resumo: estas locomotivas a vapor foram fabricadas pela Sentinel Wagon Works, empresa inglesa que em 1931 fabricou três locomotivas com caldeira vertical para a SPR (São Paulo Railway), que eram utilizadas para manobras por esta ferrovia. Estas locomotivas foram vendidas para a FNV (Fabrica Nacional de Vagões) em 1959. Assim foram então transferidas para Cruzeiro – SP, onde trabalharam até outubro de 2014, quando foram definitivamente desativadas.

Com a desativação destas, a ABPF iniciou imediatamente conversações com a empresa quanto a preservação destas locomotivas e após uma longa negociação, a empresa aceitou uma das inúmeras ofertas de compra que a ABPF fez. Na compra estavam incluídas as duas locomotivas (a terceira locomotiva foi sucateada pela FNV décadas atrás), o tanque de óleo usado no re-abastecimento e o estoque de óleo BPF existente.

Apesar da preservação destas locomotivas ser algo para se comemorar, o fim do uso destas significa também o fim do uso comercial de locomotivas a vapor no Brasil e do ultimo uso comercial de locomotivas Sentinel no mundo.

Para saber mais detalhes sobre a história delas, visite a página: Locomotivas Sentinel

Com o acordo de compra fechado, iniciou-se a operação para transporte, sendo que a ABPF precisou alugar uma carreta e foi necessário utilizar dois guindastes da própria Maxion para colocar as locomotivas na carreta. Para descarregar as mesmas em Cruzeiro, foi preciso construir uma rampa para desembarque com bitola mista:

Inicio do construção da rampa

Inicio do construção da rampa

Dormentes no lugar e trilhos de bitola larga também

Dormentes no lugar e trilhos de bitola larga também

A rampa já tomando sua forma final

A rampa já tomando sua forma final

Com o terceiro trilho e praticamente pronta

Com o terceiro trilho e praticamente pronta

Verificando a altura em relação a carreta

Verificando a altura em relação a carreta

Com a rampa pronta, já era então possível buscar as locomotivas. Mas existe uma restrição quanto a passagem de carretas pesadas pelo viaduto na saída da Maxion, ou seja, a viagem de 1,5kms, se estendeu bastante. A rota direta é mostrada abaixo:

A rota direta da Maxion até a rampa, a seta azul indica o pátio onde elas trabalhavam.

A rota direta da Maxion até a rampa, a seta azul indica o pátio onde elas trabalhavam.

mapa_longo

E o caminho que teve que ser seguido…

 

Transporte da Locomotiva 167

No dia 26/8, por volta das 13:30hs da tarde foi iniciado o carregamento da locomotiva 167, que saiu da fabrica por volta das 14:40hs:

A locomotiva 167, logo após sair do interior da fábrica, no pátio externo, onde a equipe da ABPF removeu apito e válvulas de segurança para redução da altura.

A locomotiva 167, logo após sair do interior da fábrica, no pátio externo, onde a equipe da ABPF removeu apito e válvulas de segurança para redução da altura.

 

Locomotiva 167 logo após chegar no pátio da ABPF, aguardando que os trilhos da carreta fossem conectados ao da rampa.

Locomotiva 167 logo após chegar no pátio da ABPF, aguardando que os trilhos da carreta fossem conectados aos da rampa.

 

A locomotiva aguardando o desembarque

A locomotiva aguardando o desembarque

 

Já sem as "amarras", começando a ser movimentada

Removendo as “amarras” para começar a movimentação

 

Inicio da movimentação, com a pequena manobreira alemã. Como não existia terceiro trilho na carreta, foi preciso usar um cabo de aço para puxar a 167 até a ponta da carreta

Inicio da movimentação, com a pequena manobreira alemã. Como não existia terceiro trilho na carreta, foi preciso usar um cabo de aço para puxar a 167 até a ponta da carreta

 

A 167, logo após o desembarque

A 167, logo após o desembarque

 

Locomotiva 167, guardada no pátio da ABPF

Locomotiva 167, guardada no pátio da ABPF

Transporte da Locomotiva 166

No dia 27/08/2015 a carreta foi novamente enviada a Maxion, desta vez logo pela manhã por volta das 08:00hs. Em torno das 09:15 a mesma já estava no pátio externo da Maxion, quase pronta para seguir viagem:

Locomotiva 166, no pátio externo da fábrica onde a ABPF instalou um "pantógrafo", para evitar que ela enroscasse em fios.

Locomotiva 166, no pátio externo da fábrica onde a ABPF instalou um “pantógrafo”, para evitar que ela enroscasse em fios.

 

Atravessando a ponte sobre o Rio Paraíba

Atravessando a ponte sobre o Rio Paraíba

 

O "pantógrafo" em ação!

O “pantógrafo” (cata-fios) em ação!

 

No trevo da copa, indo fazer o retorno para pegar a estrada sentido Cruzeiro

Nos trevos da rodovia, indo fazer o retorno para pegar a estrada sentido Cruzeiro

 

Após o retorno, indo para a alça do trevo.

Após o retorno, indo para a alça do trevo.

 

Após sair da alça, agora indo em direção a Cruzeiro...

Após sair da alça, agora indo em direção a Cruzeiro…

 

Passando pelos fundos da Maxion...

Passando pelos fundos da Maxion…

 

Passando em frente as oficinas da ABPF...

Passando em frente as oficinas da ABPF…

 

Finalmente chegando na rampa...

Finalmente chegando na rampa…

 

Após chegada na rampa, a carreta foi alinhada e os trilhos conectados…

 

Alinhando a carreta com a rampa

Alinhando a carreta com a rampa

 

Detalhe do alinhamento dos trilhos

Detalhe do alinhamento dos trilhos

Infelizmente a 166 veio com um engate faltando, a Maxion forneceu um outro engate substituto, mas este não se encaixa nela. Então fizemos a tentativa de remover o engate traseiro e colocar o mesmo na frente, operação esta que contou com a apoio da BS Locações (que auxilou em toda a operação, desde a construção da rampa ao desembarque).

Ajustando o engate

Ajustando o engate

Mas infelizmente o engate traseiro é maior que os demais, só encaixando mesmo na parte traseira da locomotiva 166, então foi necessário improvisar o desembarque sem engate mesmo.

Após o desembarque, a dupla de sentinels e a manobreira diesel.

Após o desembarque, a dupla de sentinels e a manobreira diesel.

 

As duas sentinels reunidas novamente.

As duas sentinels reunidas novamente.

 

A 166, no seu novo lar!

A 166, no seu novo lar!

 

Planos Futuros

No momento não existem planos concretos quanto ao uso das locomotivas. O objetivo principal de toda operação era garantir a preservação das Sentinels, objetivo este concluído agora que ambas se encontram sob cuidados da ABPF.

É provável que em 2016 sejam iniciados trabalhos de reforma das locomotivas, é importante ressaltar que a locomotiva 167 esta operacional, pois foi reformada recentemente pela Maxion. Já a locomotiva 166 teve sua reforma iniciada e não foi concluída, estando com o motor parcialmente desmontado.

As locomotivas eventualmente vão funcionar no pátio de Cruzeiro para exposição e manutenção das mesmas.

Repercussão Internacional

A notícia do resgate das locomotivas já se espalhou pelo mundo afora, já foi publicada em dois blogs:

http://sentinel7109.blogspot.co.uk/2015/08/preservation-moves-in-brazil.html

http://www.farrail-blog.com/englishposts/2994/

 

 

 

 

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13 Respostas para “Transporte das Locomotivas Sentinels

  1. paulo florentino da silva

    28 de agosto de 2015 at 22:12

    Parabéns como exferroviario apesar dos meus 72 anos gostaria muito de ajudar.

     
    • bcsanches

      29 de agosto de 2015 at 16:44

      Obrigado! Oportunidade para ajudar sempre temos, independente da idade.

       
  2. Aderbal Oliveira Torres

    29 de agosto de 2015 at 10:31

    a ABPF tem interessse em ligar Passa quatro ate Itanhandu e até sebast do rio verde ?

     
    • bcsanches

      29 de agosto de 2015 at 16:44

      Olá,

      no momento ligação com Itanhandu esta e São Sebastião esta fora dos nossos planos. E até onde sabemos não existe interesse de nenhum destes municípios com tal ligação.

      Obrgado

       
  3. Victor Silva

    29 de agosto de 2015 at 16:20

    VI QUE A LOCO DIESEL EX ESTRADA REAL ESTÁ EM Cruzeiro, vocês trouxeram a vapor de lá também?

     
    • bcsanches

      29 de agosto de 2015 at 16:42

      Não, a vapor se não estou enganado pertence a prefeitura.

      A locomotiva diesel pertencia a um particular e estava alugada ou cedida a prefeitura. Com o fim das operações ele ofereceu a locomotiva a ABPF, que fez a compra.

       
  4. Julio Moraes

    29 de agosto de 2015 at 21:27

    Além do evidente mérito do salvamento si destas raridades, a ABPF demonstra uma alta consciência histórica, sabendo que a história se faz a cada dia, e cuidando para construí-la da melhor forma possível. Parabéns por esta ação que já entrou para a história ferroviária brasileira!

     
    • bcsanches

      31 de agosto de 2015 at 15:23

      Julio muito obrigado pelos elogios e o apoio!

       
  5. pedro rezende

    31 de agosto de 2015 at 21:40

    Parabéns pelo belo trabalho. Estou iniciando uma luta para salvar uma DDM45 e vou precisar ajuda da ABPF, mesmo que apenas com seu prestígio para como entidade preservacionista. A previsão é que até 2017 todas sejam cortadas. Onde colocar ainda não é uma preocupação. O importante por ora é conseguir convencer a Vale / VLI a separar uma delas para preservação histórica, se possível 100% operacional.

     
    • bcsanches

      1 de setembro de 2015 at 15:32

      Oi Pedro! Obrigado!

      Apoio vai ter sim, mas o grande desafio mesmo é como transportar elas depois, isso somente com um suporte de quem for o doador, pois o frete delas vai ser proibitivo para a ABPF.

      Obrigado!

       
      • Victor Silva

        2 de setembro de 2015 at 9:37

        Bruno,
        A VFCJ ainda tem ligação com a malha paulista? Se tiver a última DDM vai rodando para lá.

        Pedro,

        Não acredito que a VL vá sucatear todas as DDMs, as locos novas estão vindo alugadas pela Progress e para fins de controle de bem patrimonial da concessão as DDMs devem substituir as locos que foram baixadas após 1998 na devolução ao DNIT, já que les não podem substituir as MKs baixadas pelas alugadas.

         
  6. bcsanches

    2 de setembro de 2015 at 10:50

    Victor,

    a conexão da VFCJ foi cortada a décadas, não tem como mais. A únicas regionais que possuem conexão com a malha é SC em Rio Negrinho e PR em Curitiba. As demais isoladas.

    Em Cruzeiro temos conexão com bitola larga, Mooca e Paranapiacaba também.

    Independente da conexão, as ferrovias são enroladas para fazer isso, falo por experiência própria. Temos material enroscado aguardando ferrovia transportar e já tivemos material que deu muito trabalho para eles transportarem, enroscava em todo entroncamento.

     
    • Julio Moraes

      2 de setembro de 2015 at 14:34

      O “corte” da ligação da linha Campinas-Jaguariuna foi o evento mais traumático dos primeiros anos da ABPF. A FEPASA ainda usava metade do grande pátio que havia em Jaguariuna (muito diferente do atual, com uma linha em “pera” para retorno de trens inteiros e um terreno gigantesco) e o prefeito de Jaguariuna na época simplesmente dinamitou um pontilhão que ligava o pátio a um ramal que servia uma pedreira de onde a FEPASA tirava brita para manter as suas linhas, e desapropriou o pátio e estação (nunca ficou claro como a prefeitura, anos depois, alienou a maior parte do terreno a terceiros….). Só não dinamitou o pontilhão da linha para Campinas, que já estava cedido à ABPF, porque esta agiu logo e entrou com ação judicial. Mesmo assim, sendo a ABPF pequena e incipiente na época, teve de aceitar um acordo e mudar sua base de operações para Carlos Gomes, perdendo para sempre a ligação com o resto da rede. Esse evento ficou conhecido como “A expulsão”. O consolo veio muitos anos depois, quando um outro prefeito, que era vice-prefeito à época da expulsão, chamou a ABPF de volta, construiu o viaduto e cedeu o uso da estação e parte do pátio.

       

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