Mais uma importante conquista da ABPF nesse ano de 2020: três vagões foram salvos da sucata. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas desde março, com a paralisação de todos os trens que perdurou por mais de seis meses devido a pandemia, os trabalhos de preservação, inclusive os burocráticos, não pararam e os resultados estão aparecendo.
A operação de transporte que começou ontem, dia 25/11 e terminou hoje, dia 26/11 com o descarregamento e a acomodação dos três vagões no pátio da ABPF em Cruzeiro é fruto de um trabalho da associação que se iniciou em 2015. Foram mais de 5 anos, desde o momento em que os voluntários João Bosco Setti, Eliezer Poubel Magliano e Luiz Felipe Lopes Dias identificaram a existência desse vagão tanque em Praia Formosa que, no entanto, naquele momento já não se encontrava mais ali; a descoberta de que todo o material havia sido levado para um suposto depósito do DNIT, o qual por eles foi descoberto e lá foram, fotografaram tudo e inclusive escreveram o primeiro “não cortar” no vagão tanque. Ali se iniciou uma verdadeira epopeia, com pedido formal feito pela ABPF ao DNIT; foi quando para surpresa geral que descobriu-se que ainda se tratava de um “bem operacional”, o que ocasionou um grande entrave devido ao processo existente; somente agora, em 2020, com a PRF, foi possível chegar num acordo para preservá-lo.
Sob orientação do Ministério Público Federal, a Polícia Rodoviária Federal coordenou o processo para desocupar a área e convocou entidades preservacionistas para recolher o que fosse relevante para preservação. Após inúmeras reuniões e discussões, chegou-se em um acordo que resultou no resgaste desses três vagões. Foi autorizado também o recolhimento de truques e diversos componentes avulsos como rodeiros e engates, itens esses muito úteis e necessários para reposição na frota da ABPF.
A operação de retirada e transporte dos vagões foi complexa e muito onerosa, havendo a necessidade de contratação de um guindaste de longo alcance e capacidade além de três carretas apropriadas, fora toda a mão de obra necessária.
Os três vagões, um tanque, um Hopper e um “box” já estão no pátio da ABPF em Cruzeiro/SP onde serão reformados futuramente e irão compor o acervo do museu ferroviário que está sendo criado.
Sobre os vagões:
Vagão tanque TNA-619449-4G – Fabricado na Bélgica pela GREGG CAR CO LTD em 1936 para a SHELL que o alocou para transportes na malha da Leopoldina, onde recebeu a matrícula TZV-599. Foi vendido para a A.G.E.F. – Rede Federal de Armazéns Gerais Ferroviários S/A (controlada pela Rede Ferroviária Federal S/A) e permaneceu na EFL.
Passou a ser utilizado em serviços de apoio para transporte de óleo diesel entre as oficinas e recuperação de óleos de cárter, além de resíduos também usados no final da vida útil das locomotivas a vapor como combustível e para sua lubrificação.
Após ser desativado, seguiu de Campos para a “fila da morte” que se formou no pátio de Praia Formosa, onde felizmente não foi cortado. Com as obras da região do porto do Rio, foi transferido com outros materiais e empilhado no então pátio do DNIT em Irajá.
Este vagão muito provavelmente é o último exemplar desse tipo e origem ainda existente e agora será preservado pela ABPF e irá compor o acervo do museu ferroviário que está sendo constituído em Cruzeiro/SP.
Vagão ‘box” FRD-618089-2G – Um “box” fabricado pela Energoinvest na Iuguslávia e montado pela CCC – Companhia Comercio e Construções em 1976. Antes um modelo abundante nas linhas de bitola métrica da antiga RFFSA, aos poucos está sendo substituído por modelos mais novos, tornando esse um exemplar significativo para a preservação. Ele foi alocado originalmente pela RFFSA na SR-8 – Superintendência Regional Campos. Desativado, estava na “fila da morte” que se formou no pátio de Praia Formosa, onde felizmente não foi cortado. Com as obras da região do porto do Rio, foi transferido com outros materiais e empilhado no então pátio do DNIT em Irajá.
Vagão Hopper HND-619196-7E – Fabricado pela Cobrasma em 1976 para a RFFSA, foi alocado na Superintendência Regional Belo Horizonte – SR-2.
Este vagão não só será uma peça que irá compor o acervo do museu ferroviário que está sendo constituído como também será de uso imprescindível nas obras de reforma da Linha Cruzeiro a Passa Quatro, pois ele é próprio para transporte e descarregamento de brita na via. Após circular por diversas linhas, estava circulando na região de Campos; foi desativado e estava na “fila da morte” que se formou no pátio de Praia Formosa, onde felizmente não foi cortado. Com as obras da região do porto do Rio, foi transferido com outros materiais e empilhado no então pátio do DNIT em Irajá.
Nossos agradecimentos ao DNIT, a Polícia Rodoviária Federal, Superintendência do Rio de Janeiro na figura do Superintendente Inspetor Silvinei Vasques e ao Ministério Público Federal que acreditaram no trabalho sério desenvolvido pela ABPF e tornaram possível esse importante resgate de material ferroviário histórico.
Luiz Eduardo Silvino Bueno
27 de novembro de 2020 at 16:47
Parabéns ABPF por mais esta grande conquista!! São vagões icônicos na história ferroviária brasileira! Um tesouro! Eles após a restauração vão manter sua codificação original? O Tanque vai manter a pintura original da Shell?
bcsanches
27 de novembro de 2020 at 16:48
Muito obrigado! Ainda esta sendo feito o levantamento dos padrões de pintura que ostentavam, para então ser definido qual vai ser usado.
Renilson José de Oliveira
28 de novembro de 2020 at 10:43
excelente trabalho da ABPF, resgatando e preservando a história do nosso transporte ferroviário. parabéns.
E as obras para reforma da linha Cruzeiro/Passa Quatro já iniciaram?
bcsanches
28 de novembro de 2020 at 12:46
Muito obrigado! AS obras seguem a todo vapor, estamos finalizando o pátio e em 2021 devem ser iniciados os trabalhos na via principal fora do pátio.